segunda-feira, 18 de julho de 2011

GVT planeja investimento de R$ 10 bi em cinco anos

Projetos incluem novos serviços, como TV por assinatura

A tarde de segunda-feira chega ao fim e o israelense Amos Genish prepara-se para fazer sua primeira aula de francês. No mês passado, o presidente da GVT tornou-se membro do conselho de administração do grupo de mídia francês Vivendi, que controla a operadora de telefonia, e por isso suas visitas à matriz vão se tornar mais frequentes.Mas aprender um novo idioma é o menor dos desafios que o executivo terá pela frente. Genish, que chegou ao Brasil no fim dos anos 90 para fundar a GVT, está a um passo de conduzir a empresa para uma mudança de patamar.

Com investimentos de R$ 10 bilhões nos próximos cinco anos, a companhia planeja ampliar sua atuação na telefonia e estrear no mercado de TV por assinatura e na distribuição de conteúdos multimídia da própria Vivendi (o grupo é acionista da gravadora Universal Music e da companhia de videogames Activision Blizzard).

"Temos o objetivo de crescer rápido", afirma Genish ao Valor, em um português com sotaque. Hoje, a companhia oferece telefonia fixa e banda larga em quase cem municípios, mas o objetivo é chegar a mais 80 cidades até 2015. Uma delas é São Paulo, onde ainda não tem autorização da prefeitura para instalar sua rede.

Os primeiros preparativos para a transformação da operadora já se fazem notar. Recentemente, a GVT fez uma tomada de preços no mercado e pré-selecionou três consórcios para a construção de um campus sob medida, em Curitiba, para abrigar a sede da empresa. O complexo terá quatro grande edifícios e abrigará boa parte do quadro de 25 mil funcionários que a companhia espera ter nos próximos cinco anos. É o dobro do patamar atual.

Atualmente, a sede da empresa está espalhada em sete edifícios na capital paranaense. A simplicidade das instalações sugere que, por ali, os custos são controlados na ponta do lápis.

A GVT acaba de dar um passo pouco usual entre as teles. Às voltas com problemas com as empresas terceirizadas instalavam telefones e conexões de banda larga, a operadora cessou os contratos, absorveu os funcionários e passou a fazer o serviço internamente. "Os técnicos instalam os equipamentos e mexem até no computador das pessoas. Precisa ser um serviço de qualidade e não estava bom", diz o vice-presidente de marketing e vendas da GVT, Alcides Troller. "Sai mais caro num primeiro momento, mas compensa."


A complexidade desses serviços vai aumentar em breve. A estreia da GVT na TV por assinatura está prevista para setembro ou outubro. A companhia está finalizando os acordos com os produtores de conteúdo. A operadora vai ter pacotes tradicionais de TV paga - distribuídos via satélite - e conteúdos sob demanda, que serão transmitidos via protocolo de internet (IPTV). O serviço será interativo e o decodificador dos canais também permitirá ao usuário acessar sites da web.

Nos pacotes, serão oferecidos conteúdos de empresas da Vivendi. Um dos canais será baseado em clipes de artistas da Universal Music. Os assinantes da operadora também vão ter acesso a jogos da Activision Blizzard.

A chegada à TV paga vai tornar mais evidentes as primeiras sinergias com a Vivendi. O grupo francês adquiriu a GVT no fim de 2009, numa polêmica transação de compra de ações em bolsa (na época, a operadora estava listada no Novo Mercado). Para evitar o risco de ser punida, a Vivendi fechou acordo e pagou R$ 150 milhões à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Lançada em 2000 por fundos israelenses, a GVT cresceu rapidamente e prevê uma receita de R$ 3,4 bilhões neste ano, 42% acima do faturamento de 2010. A fórmula da empresa baseia-se na oferta de banda larga a preços menores que os das operadoras tradicionais. O pacote mais básico custa R$ 49,90 mensais e dá acesso à internet a 5 megabits por segundo (Mbps) - cinco vezes mais rápido que o previsto no Plano Nacional de Banda Larga (1 Mbps a R$ 35). Por isso, Genish diz não ter interesse em aderir ao programa do governo federal.

Um dos fatores que explicam os preços mais baixos da GVT encontra-se sob escrutínio do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz): o método que a operadora utiliza para recolher ICMS. Em vez de cobrar o tributo sobre o valor total da fatura, como as demais teles, a empresa divide a conta em duas. Recolhe o ICMS somente na parte que entende ser referente aos serviços. O restante é interpretado como aluguel de infraestrutura, sobre o qual se aplicam PIS e Cofins. Com isso, a conta para o assinante fica mais barata.

A GVT mantém ações na Justiça para garantir esse método, mas já admite a possibilidade de ceder. "Podemos mudar o modelo e isso não vai alterar nossos preços. Vamos reduzir custos de outras coisas. Não é nisso que reside a vantagem da GVT", rebate Genish.

Para o executivo, não há relação entre a disputa tributária com o Confaz, de âmbito estadual, e a demora da Prefeitura de São Paulo em conceder as licenças para a operadora entrar no maior mercado do país. A estreia na capital paulista estava prevista para o segundo semestre. Agora, não há mais previsão. Segundo o executivo, o impasse ocorre porque a legislação proíbe a instalação de novos cabos em postes e a empresa não quer arcar, sozinha, com o custo de aterrar a infraestrutura. Por isso, a GVT está em negociação com a prefeitura e as empresas de telefonia e energia (que utilizam os postes) para uma solução conjunta.

Genish diz não ter pressa. Enquanto a autorização para São Paulo não sai, a GVT antecipa a estreia em cidades como Feira de Santana (BA) e Santos (SP). "São Paulo precisa mais da GVT do que a GVT precisa de São Paulo", avalia.

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