quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Opinião da Semana - Instituto Telecom: Anatel tem que cumprir o seu papel


Coincidentemente, ou não, na semana passada, quando a Anatel se destacou por defender os direitos dos consumidores, com a proibição de vendas de novas linhas da TIM, Claro e Oi em todos os estados brasileiros por conta do número de reclamações dos usuários, o Tribunal de Contas da União (TCU) divulgou um relatório criticando o desempenho da agência e listou uma série de recomendações a serem seguidas em caráter de urgência.

Dentre as recomendações, que já haviam sido feitas em relatório divulgado em 2006 e que não foram cumpridas, estavam: o aperfeiçoamento do processo de acompanhamento dos indicadores de qualidade informados pelas empresas, na forma de auditorias ou sistemas de monitoramento; a implantação de um procedimento sistemático e periódico de acompanhamento do cumprimento, por parte das operadoras, das demandas dos usuários sobre qualidade do serviço e do atendimento; e a criação de mecanismos sistemáticos para acompanhar com mais rigor a resolução dos problemas apontados nos relatórios de fiscalização.

Na tentativa de dar uma resposta rápida às críticas e recomendações do TCU, o conselheiro da agência, Rodrigo Zerbone, apresentou na reunião do Conselho Diretor realizada no último dia 26, um novo regulamento de fiscalização. A grande inovação é uma fiscalização online, com informações e dados sobre os serviços prestados pelas empresas, acessíveis somente por técnicos da Anatel. O texto prevê, inclusive, que as operadoras saibam quando estes dados estão sendo acessados.

A proposta foi refutada imediatamente pelas teles sob alegações extremamente frágeis, como o perigo de serem divulgados virtualmente dados pessoais de seus clientes. Típica argumentação de quem nunca teve e nem quer permitir que haja uma fiscalização adequada.

A verdade é que a Anatel já deveria ter feito essa divulgação online desde 2007, ano seguinte à recomendação feita pelo TCU. Está mais do que na hora da agência tomar para si as responsabilidades que lhe cabem como órgão fiscalizador. As operadoras estão fragilizadas pela opinião pública, cansada dos mandos e desmandos das teles na hora de cobrarem valores irreais, alterarem os pacotes acordados e da má qualidade do serviço prestado em todo país. Além disso, a fiscalização online pode trazer economia de tempo e recursos.

Com o pedido de vista da conselheira Emília Ribeiro, durante a reunião do conselho diretor, a votação do novo regulamento foi adiada. Mas, esta pode ser mais uma chance para a agência aprofundar o debate internamente.

É preciso repensar questões exigidas também pelo Tribunal no relatório atual como o estabelecimento de ações necessárias para que as demandas institucionais sejam sistematizadas e coordenadas entre as diversas áreas da agência de forma mais dinâmica; assim como o aprimoramento do ranking de qualidade levando em conta os dados coletados juntos aos call centers das empresas e dos dados disponíveis no Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC). Além disso, a elaboração do procedimento de cálculo de multas deve ser sancionada com maior rigor para as prestadoras que não responderem efetivamente as reclamações encaminhadas pela Anatel.

Outra preocupação relevante é com a falta de perspectiva para um possível aumento dos investimento feitos pelas empresas na infraestrutura disponível no Brasil. Tanto TIM quanto Vivo, assim como as demais empresas, ignoraram a exigência feita pela agência pela revisão de um plano de investimento. A única alteração que elas aceitam até agora é a relocação de parte do valor previsto para investir nas redes. Para as teles os valores previstos anteriormente são mais do que suficiente para o funcionamento adequado de seus serviços. O que na prática já foi comprovado não é real.

O governo já aprovou desonerações fiscais para o setor. Mas, ao que parece, de acordo com as empresas, as dificuldades na instalação de antenas no país, por conta de algumas legislações municipais parecem serem a única justificativa para a péssima situação da telefonia móvel no país. Enquanto isso o Ministério das Comunicações estuda uma lei nacional para as antenas e o ministro Paulo Bernardo anunciou recentemente que a lei só será válida para os municípios que ainda não possuem uma legislação.

Nós, do Instituto Telecom, defendemos que mais uma vez a Anatel tem em suas mãos uma oportunidade de melhorar efetivamente a sua atuação no setor. E não pode fazer com que o debate sobre o novo regulamento de fiscalização da agência se limite apenas aos problemas da telefonia móvel.

Fonte:
http://www.institutotelecom.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3522:nossa-opiniao-da-semana-anatel-tem-que-cumprir-o-seu-papel&catid=1:latest-news

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